sexta-feira, 13 de novembro de 2009

La fase Bleu, ou a fase azul, como costumo definir algumas das minhas criações.

Decidi começar com um texto feito este ano, uma reminiscência de alguns anos atrás.

"Eu sou invisível", pensei ao entrar mais uma vez na sala de aula , aquele caos rotineiro de todas as manhãs na escola.
Habitualmente, joguei meu fichário em cima da mesa, e deixei minha mochila no chão. Meu blusão de frio (quase duas vezes maior que meu corpo) era quente e aconchegante. Coloquei a touca e deitei minha cabeça na carteira. "Vou continuar invisível".
Eu estava com sono, como todos os dias, e só pensava em dormir, me escondendo no blusão, desejando sumir da escola, sumir do mundo.
O professor de física entra na sala e a balbúrdia parece aumentar. Este professor sempre deixava os alunos "à vontade". Na minha opinião era mais um professor inútil de uma escola antipática.
Era a segunda semana após as férias de Julho e, como sempre, ninguém estava habituado a fazer lição. Nem eu, ainda menos na aula de física.
De repente, alguém puxa a touca da minha cabeça. Era o professor de física, num sorriso sarcástico. E ele me pergunta:
_O que você tem?_ fazendo uma cara de preocupado. Uma cara que não me enganava.
_Nada..._respondo, uma voz bem baixinha. Nada, não tenho nada. Eu nunca tenho nada. Só quero sumir deste planeta.
O professor resolve me deixar em paz, enquanto eu viro a cabeça para o outro lado. O que eu tinha, afinal? Qual era o meu problema? Na verdade eu não fazia ideia de problema algum. Minha vontade de sumir surgira do nada, pois, afinal ninguém iria sentir minha falta. Meus amigos estavam bem ali, na sala de aula, porém eu realmente devia estar invisível no meio deles. Eu não falara nada e eles nem me dirigiram palavra. Acho que ficou por isso mesmo.
E, quando eu menos esperava, uma lágrima correu pelo meu rosto, única e tímida, como quem tem vontade de chorar, mas não tem coragem de se ver chorando. Minhas mãos apressaram-se a secar a tal lágrima, e logo meu rosto voltou à sua estabilidade, intacto.
Essa lágrima me visitava sempre, sem ao menos avisar quando e como chegaria. E eu nunca permiti que ninguém jamais a visse. Ou eu, pelo menos, me esforçava na maioria das vezes para tentar esconder esse fato dos outros.
Vivi, no entanto, estes seis últimos anos deste modo, aparentando ser uma pessoa de humor estável, intacto, séria...fui sempre introvertida, falava pouco, sorria pouco...
Nem sei ao menos se realmente tenho vivido esses anos todos...às vezes me parece que só sobrevivi, mas não aproveitei minhas chances de ser uma garota feliz...normal.
Sei que não é uma crise existencial. Pareço ter passado por uma forte depressão...às vezes me via como se estivesse num quarto escuro, amedrontador, vazio...sem ninguém para acender a luz. Uma solidão completa.
Tenho muito medo de tudo. Até de viver. Porém também tenho medo de deixar que a vida me leve sem eu ao menos aproveitar os bons momentos que a vida poderia me proporcionar...
Tenho tanto medo que às vezes sinto que só há o medo reservado para mim nesta vida. Nesses últimos anos eu não senti mais nada além do medo de viver.
E é irônico que só agora eu consiga ver o quão idiota eu fui estes anos todos.

Um comentário:

  1. Naty, gostei muito do seu blog.
    Apesar de ser um pouco reservada, vc aparenta ser uma pessoa cheia de sentimentos.

    E como eu, vc tbm gosta de expor atráves de palavras tudo aquilo que sua alma esta cheia. Gostei muito do blog, continue postando.

    Favoritei no meu Ok, espero que não se importe.

    Beijos

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